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As Asneiras do Guedes

{Artur Azevedo}
[Language: pt_br]
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Contos volume 2 (Artur de Azevedo)

As Asneiras do Guedes"






Não é precisamente um conto o que hoje vou escrever.



Voltou do seu passeio a São Paulo o Guedes - o Guedes sabem? - o maior asneirão que o sol cobre, aquele mesmo que respondeu aqui há tempos quando numa roda lhe perguntaram se tinha filhos:



— Tenho uma filha já adúltera.



— Adúltera?!



— Sim, senhor, adúltera; vai fazer 17 anos.



— Adulta quer o senhor dizer...



— Ou isso. E uma boa menina; só tem um defeito: é muito luxuriosa.



— Luxuriosa?!



— Sim, senhor, luxuriosa: gosta muito de luxar.



— Ah!



— Mas lá está minha mulher para lhe dar bons conselhos... sim, porque minha mulher é muito sensual.



— Sensual?!



— Sim, senhor, sensual: tem muito bom senso.



Pois é como lhes digo: tive o prazer de encontrar ontem esse precioso Guedes, cujas asneiras, colecionadas, dariam um volume de trezentas páginas, ou mais.



Eu estava num armarinho da rua do Ouvidor, onde entrava para cumprimentar a minha espirituosa amiga D. Henriqueta, que andava, como sempre, fazendo compras, enchendo-se de caixinhas e pequeninos embrulhos, adquiridos aqui e ali:



O Guedes, mal que me viu, correu a dar-me um abraço, dizendo:



— Li no "O País" a notícia do seu aniversario...



E recuando dois passos, tomou uma atitude solene, deixou cair as pálpebras, e acrescentou:



— Faço votos para que você tenha um futuro tão brilhante como o que passou.



Agradeci comovido essa manifestação de apreço envolvida num disparate, e apresentei o Guedes à minha espirituosa amiga D. Henriqueta, que mordia os lábios para não rir.



— Apresento-lhe, minha senhora, o mais extraordinário reformador da língua portuguesa: o Guedes, o grande Guedes, que acaba de chegar de São Paulo, onde esteve a passeio.



— Era tempo de fazer uma viagem! - explicou ele. - Foi a primeira vez que saí do Rio de Janeiro.



— Eu também não saí ainda desta cidade senão para ir uma vez a Petrópolis e duas a Niterói - disse D. Henriqueta.



— Vejo então que a senhora é cortesã... - acudiu o Guedes curvando os lábios no mais amável dos seus sorrisos.



— Cortesã?!



— Cortesã, sim... filha da Corte...



— Oh! Guedes! - observei baixinho. - Pois você não vê que está dizendo uma inconveniência?



— Tem razão... Atualmente não se deve falar em Corte...



E emendou:



— Vejo então que a senhora é capitalista federalista.



D. Henriqueta desta vez riu-se a perder. É provável que ao leitor não aconteça o mesmo. Paciência.



— Ó Guedes! Vamos lá! Diga-me! Que impressões trouxe de São Paulo?



— Muito boas! Aquilo é uma grande terra!



— Dizem que há lá muita sociabilidade.



— Como?



— Muita convivência...



— Isso há... As famílias visitam-se... Ou moços coabitam tom as moças.



— Ora essa!



— Que entende você por "coabitar"?



— E... é...



— É uma indecência... uma inconveniência... uma coisa que não se diz!...



O Guedes inflamou-se:



— Está você muito enganado... "Coabitar" é...



E voltando-se para um dos caixeiros do armarinho:



— O senhor tem aí um dicionário que me empreste?



— Pois não?



E daí a dois minutos o Guedes tinha nas mãos os dois volumes do Aulete.



— Muito bem! - disse eu. - Procure "coabitar".



Depois de folhear em vão o dicionário durante um ror de tempo, o teimoso exclamou:



— Não dá! Não dá! Vejam...



— Perdão: você está procurando com u: deve ser com o!



— Tem razão, tem razão... Onde estava eu com a cabeça?



E o Guedes pôs-se de novo a folhear o Aulete.



— Não dá! Também não dá com o! Veja: de coa para coação! Não dá com u nem com o!



Valha-o Deus, Guedes, valha-o Deus! Você está procurando sem h? Dê cá o dicionário!



E com um sorriso de triunfo mostrei ao Guedes a significação da palavra.



— Olhe, leia: "Coabitar, habitar, viver conjuntamente".



— Mas isso...



— Agora veja o que o Aulete acrescenta entre parênteses:



"Diz-se particularmente de duas pessoas de diferente sexo".



— Perdão! - bradou o Guedes furioso. - Perdão! Eu não disse particularmente, mas alto e bom som, e só não me ouviu quem não me quis ouvir!



E batendo com a mão espalmada sobre o balcão:



— Eu não sou homem que diga as coisas particularmente!





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Contos, volume 2

"Não é precisamente um conto o que hoje vou escrever.

Voltou do seu passeio a São Paulo o Guedes - o Guedes sabem? - o maior asneirão que o sol cobre, aquele mesmo que respondeu aqui há tempos quando numa roda lhe perguntaram se tinha filhos:

— Tenho uma filha já adúltera.

— Adúltera?!..."

Artur de AZEVEDO (1855 - 1908)

Artur de Azevedo foi um dos principais autores de teatro no Brasil do século XIX. Dando continuidade à obra de Martins Pena, consolidou a comédia de costumes brasileira, sendo no país o principal autor do teatro de revista, em sua primeira fase. Sua atividade jornalística foi intensa, devendo-se a ele a publicação de uma série de revistas, além da fundação de alguns jornais cariocas. Ficou também conhecido por suas crônicas e contos, sempre cheios de humor. Esta coleção é uma recolha de seus contos, publicados, em sua maior parte, no livro Contos Possíveis, de 1908;

Genre(s): Short Stories
Language: Portuguese
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Autor: Artur Azevedo
Idioma: pt_br
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